Ordem Vermelha - Filhos da Degradação (Felipe Castilho)

Minha nota: ☆☆☆☆☆
Nome: Ordem Vermelha - Filhos da Degradação (Vol. 1)
Autor(a): Felipe Castilho
Editora: Intrínseca
Livro no Skoob

É até difícil saber por onde começar a falar de uma obra-prima que é este livro. De verdade, nunca imaginei que um livro - brasileiro, diga-se de passagem - pudesse mexer tanto comigo e me abalar com emoções fascinantes do início ao fim, com tramas muito bem intercaladas e personagens peculiarmente fortes e marcantes. Chorei, gritei, amei, fiquei com raiva e me surpreendi a cada página e capítulo.

A trama se desenvolve em um mundo completamente diferente do nosso, chamado Degradação. A Degradação vivia em harmonia em tempos longínquos, quando seis deuses criaram raças para povoarem a terra: humanos, kaorshs, anões, sinfos, gnolls e gigantes. Cada raça pertencia a uma determinada parte do mundo até que, com a ganância de alguns, uma guerra começou a se desenrolar entre elas.

Quando já não restava quase mais nada na Degradação, os seis deuses resolveram se unir para que um novo deus fosse criado. Foi então que nasceu Una, a deusa das seis faces, responsável pelo que restava do mundo, além de ser uma versão mais evoluída do que os deuses anteriores. Entretanto, isso tudo era uma história contada ao longo de mais de mil anos, como uma religião que é ensinada desde o dia do nascimento daquelas pessoas até sua morte.

O que restou foi Untherak, dentro de uma muralha aos pés do Monte Ahtul, onde o restante da população da Degradação vive de forma submissa ao governo da deusa Una. Dentro dos muros há o Miolo, onde pessoas servem à deusa diariamente, com apenas um dia de folga na semana, e recebem uma mixaria por isso. Para sair do Miolo, no entanto, esses servos precisam comprar suas semi-liberdades, cujo custo é altíssimo e poucos conseguem juntar o dinheiro necessário para isso.


Aelian trabalhava no poleiro, dentro do Miolo, desde a morte do seu pai no último Festival da Morte, que aconteceu há 20 anos. Por servir à deusa desde pequeno, carregava no rosto uma marca de servidão. O jovem possuía uma mascote chamada Bicofino, que era um dos falcões do poleiro e que carregava uma pena da cor proibida que teimava em nascer no seu rabo. A cor rubra fora banida pela deusa de Untherak e ninguém jamais podia vê-la ou usá-la, era estritamente proibida. Em contrapartida, a escuridão da mácula estava por todos os lados do Unificado.

O livro traz vários pontos de vista, mas os principais são de Aelian e Raazi. Essa última, uma kaorsh lutadora e poderosa, que trabalhava no tear do Miolo, namorava outra kaorsh chamada Yanisha. As duas eram incríveis e letais, além de possuírem um plano para o que estava por vir. Um novo Festival da Morte se aproximava e ambas pretendiam participar, embora todos soubessem que era impossível vencer o festival e ninguém nunca o fizera antes.

Mesmo sabendo que elas morreriam, Aelian estava angustiado com a noticia de que um novo festival aconteceria depois de tanto tempo, ainda mais quando o último levou seu pai à morte. Cada personagem da trama tem uma presença forte, características essenciais para os acontecimentos que se seguem após o Festival da Morte. Aelian, por exemplo, consegue escalar até o maior muro de Untherak com enorme maestria.

Rumores chegaram ao povo de Untherak sobre alguém denominado Aparição, que acabou virando quase um mito aos ouvidos dos fieis de Una. Muitos acreditavam que Aparição era apenas uma história inventada, até o momento que Aelian se deparou com a figura encapuzada, tão letal quanto a própria deusa e o seu general, Proghon.

A deusa tinha um guarda costas, o General Proghon, além da Centípede que vivia no seu encalço para servi-la. Porém, algumas brechas foram abertas ao longo de tantos anos e a crença de algumas pessoas começou a ruir de dentro para fora. Aparição não era alguém letal para o povo inocente de Untherak, ele era um personagem com uma carga de sentimentos a serem resolvidos com o governo do que supostamente era o que restava da Degradação.

Com a ajuda de outras pessoas, um grupo é formado e liderado por Aparição na busca por uma verdade que já estava sendo desmascarada pouco a pouco. Havia algo de muito errado por trás da divindade de Una, algo que fora mascarado durante mil anos e que agora sofria para ser desenterrado. Muitas pontas estavam soltas e precisavam ser amarradas para que o plano de Aparição desse certo, por isso que a ajuda de Aelian, Raazi, Venoma, Harun e Ziggy era tão importante.

Para que conseguissem derrubar Untherak de dentro para fora, o grupo teria que trabalhar em conjunto num lugar outrora esquecido, chamado Coração da Estátua, que ficava dentro da grande estátua de Una, localizada no meio do Miolo. Dentro desse lugar, muitas coisas seriam descobertas, muitos mistérios seriam revelados e muitas estratégias seriam montadas para derrubar uma grande farsa.

Com a promessa de dias melhores, Aparição leva seu grupo à uma batalha inevitável contra o governo da deusa. Isso trará consequências extremas para ambos os lados e deixará ainda mais pontas soltas para serem amarradas do lado de fora de Untherak. Será que nada mais existia fora daqueles muros? Até onde daquele governo era verdade ou mentira? Tudo que eles conseguiam enxergar fora dos muros era um grande breu na consciência que implorava para ser preenchido.

Esse é o grande gancho deixado por Ordem Vermelha - Filhos da Degradação para o próximo volume da trama, que até então tem planos apenas para ser uma duologia. Não faço ideia de quando essa continuação sairá, mas já quero na minha estante, pois não estou me aguentando de ansiedade para saber o rumo desses personagens que tanto me marcaram e me fizeram chorar horrores! Esse é o melhor livro brasileiro de fantasia que eu já li até hoje, ele nasceu de um projeto da CCXP e foi publicado pela editora Intrínseca na edição de 2017.

Marlon Gonçalves

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