Resenha: Tartarugas até lá embaixo (John Green)

Minha nota: 
Nome: Tartarugas até lá embaixo
Autor(a): John Green
Editora: Intrínseca
Livro no Skoob

Russell Pickett é um bilionário de Indianápolis, Indiana, que desapareceu sem deixar nenhum vestígio do seu paradeiro após ser acusado de suborno e ter um mandado de prisão contra ele. Russell é dono da Pickett Engenharia, uma das maiores empresas de Engenharia da cidade.

Após o seu desaparecimento, uma recompensa de 100 mil dólares foi anunciada para quem desse alguma pista nova que levasse a polícia a descobrir onde o bilionário estava, vivo ou morto. Por não ter nenhuma câmera dentro da mansão dos Pickett, essa investigação se mostrou ainda mais complicada, mas nem mesmo assim impossível, de ser solucionada.

Aza Holmes está no ensino médio e estuda na White River High School, onde sua mãe faz parte do corpo docente. Falar não é muito uma de suas habilidades, em contrapartida, sua melhor amiga, Daisy, consegue falar pelas duas ao mesmo tempo. Ambas estavam vivendo suas vidas o mais normal possível até o momento em que Daisy decidiu que as duas iriam ficar ricas com a recompensa de cem mil dólares dos Pickett.

Com isso na cabeça, Daisy convence Holmes (nome sugestivo, hein?) a participar de sua jornada para descobrir pistas ocultas ou o próprio paradeiro do bilionário desaparecido. Assim elas saem, na velha canoa que Aza costumava usar com sua mãe quando criança, através do White River até a propriedade dos Pickett, que ficava do outro lado do rio. Quando crianças, Aza e Davis Pickett foram amigos que se afastaram com o passar dos anos. Agora, ela estava prestes a reencontrá-lo.

Em busca de pistas, as duas acabam sendo encurraladas por Lyle, o segurança da propriedade, que as levam para Davis. A sorte delas é que ele conhecia Aza e os dois começaram a jogar conversa fora, até Daisy simplesmente dizer que Aza era apaixonada por ele desde criança e sair andando pela propriedade, deixando-os a sós. Sem saber o que fazer, Aza apenas tentou consertar o que não tinha conserto. O problema era que Davis sabia, obviamente, qual era a real intenção das garotas ali: o dinheiro da recompensa.

Após se reencontrarem, Davis e Aza mantém contato um com o outro, embora ela não saiba o que realmente sente pelo rapaz. Ele é bom, mas está completamente machucado com o desaparecimento do pai. Sem contar que ele era praticamente órfão agora e tinha um irmãozinho de 13 anos para tomar conta, chamado Noah, que sofria ainda mais com a perda do pai. Não bastasse a dor que Davis estava passando, era preciso se firmar diante do irmão para dar-lhe forças que ele próprio não tinha.

Holmes perdeu o pai ainda criança, mas suas memórias ainda viviam dentro dela, embora, com o tempo, tenham ficado gradualmente mais dispersas. Aza era uma garota que sofria de Transtorno Obsessivo-Compulsivo, TOC, e tinha a sensação de ser apenas um agente coadjuvante na maior parte da sua própria vida. Pensamentos desconexos invadiam a sua mente de forma brutal e invasiva que faziam com que ela quisesse não pertencer ao seu corpo.

É de uma forma bem realista, do tipo que toca dentro da ferida mesmo, que vamos adentrar na cabeça dela para conhecer e saber o que se passa na mente de alguém que sofre aquele tipo de doença. Entretanto não é de uma forma romantizada e carinhosa, do tipo que sempre tem final feliz. Afinal, é um livro do John Green, né? E quem ler os livros dele sabe muito bem que a vida não tem um final nem feliz nem triste, ela oscila entre esses dois estados.
O problema dos finais felizes é que ou não são realmente felizes, ou não são realmente finais, sabe? Na vida real, algumas coisas melhoram e outras pioram.
É tão intrusivo os pensamentos dela, que às vezes eu ficava realmente mal pela personagem. Consegui me identificar com algumas coisas dela, que fizeram refletir outras milhões de coisas na minha cabeça. No meio de toda essa profusão que acontece dentro da mente da Aza, ela ainda tem que pensar sobre os acontecimentos ao seu redor. Ela precisa pensar sobre Davis, sobre como ele está se sentindo, e sobre a recompensa que Daisy tanto quer.

Daisy é uma personagem que está quase sempre em cena com a Holmes, ambas tentando desvendar o paradeiro de Russell, mas também conhecemos um pouco do que se passa na cabeça dela. Como ela processa e interpreta o fato de ter uma melhor amiga que sofre de TOC. É importante entender não somente a pessoa doente, mas também as que estão ao seu redor. Isso faz com que o tratamento e a ajuda sejam aperfeiçoados.

No fim das contas, depois de tantos encontros e conversas entre Davis e Aza, a vida precisa continuar. Talvez não da forma que pretendiam, talvez não do jeito ideal ou do sonhado. Reviravoltas acontecem com os dois, ambos são de vidas completamente divergentes e o destino deles não é nada certo. Conseguimos ver que o dinheiro não é tudo na vida, talvez, na verdade, seja o pior vilão.

Através de metáforas para esconder suas dores, Davis e Aza vão descobrindo o valor que suas vidas têm. É assim que deve ser a vida, aproveitada a cada instante da melhor forma possível. Seja vendo constelações no céu ou preso na própria cabeça. Tudo tem que ser vivido intensamente. Esse é um livro sobre a vida, sobre perda e sobre se tornar alguém melhor a cada dia. Todos somos feitos de perdas, seja de amizades, de dinheiro, ou até mesmo da própria vida. Mas é como se diz: a vida continua...

Marlon Gonçalves

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